segunda-feira, 4 de novembro de 2013

MINHA VIDA GAY                                         

Vida gay – Masculinidade representa falta de jeito para 


carinho?


Gays masculinos sabem ser carinhosos?
POR: M.V.

Recentemente estive em conversas longas e variadas com o amigo Sammy que voltou de sua viagem. Trouxe a mim suas aventuras e desventuras sozinho em NY, motivo para boas risadas e diversão para esquentar esses dias frios de SP.

Durante nossa conversa ele lança um ponto que nunca havia parado para pensar mas que, possivelmente, faz parte do imaginário de muitos gays. A ideia seria basicamente essa (e ele me corrija se estiver errado): “MVG, comentei com o ‘P’ a respeito de você, como você se comporta e – da maneira que é – não consigo imaginar você sendo carinhoso em seus relacionamentos – rs”.

Na hora parei para pensar sobre aquela afirmação bastante nova para mim e disse: “Você está dizendo que com esse meu jeito masculino dá a impressão que sou frio ou seco com as minhas relações?”. O Sammy afirma que sim e lança alguns exemplos de como se comportaria até mesmo com amigos, expressando carinho do tipo “eu te amo”, “você é muito importante para mim”, entre outros.

Realmente achei interessante sua colocação e creio que muitos gays poderiam levantar essa questão. A conversa se prolongou e comecei a falar de como eu percebo esse ponto. Disse a ele que expressões de “eu te amo” ou de “você é muito importante para mim” ficam bastante delimitados àquele que estou namorando. Sammy comentou que, depois que conheceu meu namorado, conseguiria imaginar ele sendo carinhoso comigo, mas não ao contrário – rs.

No final de semana trouxe a questão inclusive para meu namorado e, ambos sabemos que, em se tratando de carinho daria até para dizer que ele tem menos gestos carinhosos em relação a mim. Não que isso seja um problema, mas no contexto levantado pelo Sammy, é interessante perceber como funciona o imaginário das pessoas, como é diferente de um para o outro e como os nossos imaginários muitas vezes nos enganam! Ah, se enganam! rs

Talvez alguns gays sintam-se arredios os desconfiados quando a imagem de um outro gay se expresse de maneira muito masculina. Não seria esse caso mais um exemplo como relato no último post “Assumir a homossexualidade para os pais resolve todos nossos problemas?”, quando as coisas são para todos nós sob forte influência de nosso imaginário? Como achar que determinado modelo masculino por ser lindo seja consequentemente bom na cama. Ou que o fato de um gay ser sarado ser exclusivamente ativo, ou que todas as drag queens ou transformistas tenham que viver aquela vida “suja” formada pela identidade do travesti, ou a própria idealização do homem heterossexual que muitos gays fazem ainda achando que o verdadeiro homem que nos resguarda e tem a pegada é o heterossexual.

Todos esses exemplos, dentre muitos outros, serão sempre fruto de nosso imaginário, das referências que recebemos desde muito jovem e que definem as nossas percepções. Imaginários, quando herdados de cultura familiar, mídia ou fatos apreendidos por instituições, normalmente estão envoltos por paradigmas. Explico: durante muitos anos o nosso imaginário é orientado por instituições. Pais e família, amigos, escola e igreja seriam as instituições básicas. São também formados pela mídia, pela propaganda e pelas artes, tais quais o cinema e a música. Muitas vezes o nosso imaginário busca por formar cenas, situações e contextos que nos tragam algum tipo de segurança ou conforto. E outras vezes os modelos se exaurem e passamos a buscar novos referenciais para romper com paradigmas e trazer outras referências para a construção de novos imaginários. Normalmente é ai que nos “adultificamos” e buscamos uma maior individualidade de referenciais.

As coisas funcionam assim a todo momento para todos nós. Não é a toa (e voltando um pouco o texto anterior) que para alguns gays o estado enrustido é um conforto e para outros é uma prisão. Muitos gays estão tão presos aos paradigmas de “ser gay” que não conseguem enxergar uma combinação. Temem tudo aquilo que os desqualificariam como homens (“homem” do próprio imaginário) por serem homossexuais (a imagem que tem do gay). Outros querem alcançar o estado de “liberdade” do imaginário e buscam todas as brechas que emanam alguma luz de dentro do armário. Saem do armário e vivem o brilho 360 graus.

Assim, no universo do imaginário, masculinidade representa falta de jeito para carinho?

Depende muito de cada um. No meu caso, como conclui para o amigo Sammy, o comportamento carinhoso, afetuoso e romântico que até sugiro aqui no Blog, na prática, no tête-à-tête, se restringe ao meu namorado.

(Desculpe, Sammy! Se eu for com você como sou com meu namorado vou acabar te sedunzindo! =P)

Texto: Homens quentes

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