Crítica: "Flores Raras"
"Flores Raras", de Bruno Barreto, abre um novo norte aos filmes brasileiros com personagens LGBTs. A entusiasta recepção em alguns dos principais festivais de cinema do mundo, a começar pelo Festival de Berlim, e o bom desempenho de bilheteria, em meio a uma onda de comédias, aproxima a produção ao feito social de "O segredo de Brokeback Mountain", um sucedido e não estereotipado recorte homoafetivo.
O romance ambientado na década de 50, onde a alta sociedade carioca parecia despreocupada com a sexualidade alheia, é intrínseco a qualquer casal. A ampla aceitação do público derruba o rótulo 'temático' atribuído às produções do gênero, que geralmente segmenta o espectador pela narrativa.
Baseado no livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmen L. Oliveira, o longa-metragem traz a incursão da poetiza norte-americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto) ao Brasil: um lugar exótico, com clima quente e população pra lá de espontânea. Circunstância necessária para se reinventar como artista.
O choque cultural vai de encontro à expansividade de Lota de Macedo Soares (Glória Pires), arquiteta carioca que idealizou e supervisionou a construção do Parque do Flamengo. A intransponível relação – contenção e candura versus emoção e impulsividade –, transcende e a plateia não tarda a perceber como elas se complementam.
O efeito de atração e repulsão foi favorecido pelo roteiro, por meio da sutil inserção dos conflitos, e pelas protagonistas. Barreto cria um ambiente propício para entrega das atrizes, onde, livre das amarras, imprimem a tórrida paixão.
O incompreendido Rio de Janeiro de Bishop, que não correlacionava a alegria do povo com o então cenário político, é a carta fora do baralho. A bossa nova e as exuberantes paisagens soam desconexas à trama, como uma campanha da Secretaria Estadual de Turismo. Contudo, a escorregadela não ofusca a história, nem a incomum oportunidade de levar o tema para mesa de jantar. Um filme para toda a família.
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